A velha Televisão pesada de quatro pernas
Quando mudamos para Guaxupé, acreditando que a vida seria maravilhosa, pois na cidade, tomaríamos banho quente, a água sairia da parede de um negócio chamado torneira, lá deparamos com a atual realidade, que não era nada daquilo que acreditávamos.
Lá se não trabalhasse não tinha comida. Mas trabalhar era fácil! O difícil era o emprego e meu pai ficou bom tempo desempregado.
Nessa época, o povo já tinha televisão, mas devido nosso estado de miséria, a gente via televisão era na casa do vizinho.
Nós morávamos em um cortiço, próximo ao Clube Operário, nessa época quando era mais ou menos 6 horas da tarde, já estava todo mundo de banho tomado e jantado para ir à casa do vizinho assistir televisão.
Não me lembro de nada que passava na novela, a única coisa que recordo é que minha mãe nem piscava assistindo uma novela, que se chamava Coração Alado.
O tempo foi passando, as coisas foram melhorando, as novelas foram mudando, o progresso chegando. O povo melhor de situação foi trocando as TVs e aquelas pretas e brancas começaram a serem descartadas.
Nessa época, não recordo se meu pai ganhou ou comprou parcelada uma linda TV, era enorme, muito pesada e tinha quatro pernas. “… Nossa! Que felicidade! Íamos ter uma televisão!…”.
Então meu pai, cuidadosamente montou aquela TV na sala, que na verdade era o nosso quarto e colocou um transformador. Cuidadosamente virou a chave daquele transformador umas duas ou três vezes e ligou a TV.
A TV começou a esquentar, fazer um barulho estranho e lá no centro da tela, começou a sair uma luz e foi aumentando. Nós, muito ansiosos, fomos olhando aquilo e esperando, aquela sensação maravilhosa em realizar o sonho da TV.
Não passou 20 minutos e a TV, já começou a mostrar uma imagem. Meu pai virava a antena, torcia alguns botões e logo, não passou nem uma hora, já estávamos assistindo nossas primeiras imagens.
Enfim, não me envergonho com essa história, nem me sinto inferior, nem ao menos valorizado por isso. Apenas aprendi nessa parte de minha vida, que não importa se a TV do vizinho é linda, colorida e a sua é preta e branca, pesada, de quatro pernas que demora uma hora para ligar.
O que importa é que aquela TV é a sua TV, e a do vizinho é do vizinho, então valorize tudo que você tem, seja humilde, seja simples, valorize as pequenas coisas que circulam sua vida, dinheiro é bom! Sim, é ótimo! Para compra um arroz um feijão e mais alguma coisa para sobrevivermos.
A felicidade não vem do dinheiro e sim de você mesmo! Felicidade é determinação! Felicidade é valorizar cada fase de sua vida, cada pessoa que te circula, viver cada vitória, agradecer e aprender com seus fracassos.
O segredo da vida não é ter tudo que você quer, mas amar tudo que você tem, por isso, valorize o que você tem e as pessoas que estão ao seu lado, sempre!