Eu tinha medo do Gil Gomes

Nossa! Que medo! Lembro quando menino, minha mãe sintonizava o velho radinho de pilha no programa Gil Gomes. Era uma voz muito feia, horrível, parecia meio macabra, uma voz que parecia vir do além.

Quando ele começava contar suas histórias, que geralmente envolvia mulher bonita, ladrão, homicida, estuprador, homem machista e autoritário, isso chamava atenção do público, que na ausência de TV, suas histórias era como assistir um filme.

Sempre usava uma musica de suspense, a vontade que eu tinha, era entrar debaixo das cobertas e ficar escondido, pois a voz era horrível. Eu me sentia em um verdadeiro filme de terror.

O pior, que ele narrava e vivia suas histórias, de modo que a gente via a cena nítida na nossa frente, era um verdadeiro filme, que através de suas histórias a gente criava o filme na cabeça, era assustador!

Porém a sensação de quando terminávamos de ouvir aquilo, era maravilhosa, era com a mesma sensação, que se estivesse descendo de uma montanha russa.

Mas aquela história macabra que ele contava, a gente vivia e automaticamente, ia formando nossa personalidade, pois quando se imagina, se vive e quando vive , se for ruim, nunca mais queremos passar por aquilo.

E ouvindo aquelas histórias de homicídio, de roubos, pude ver nitidamente em minha mente, tanta gente morrer! Que eu não ia querer viver tudo aquilo novamente, pois a sensação vivida ouvindo as histórias, nunca mais vou querer passar novamente.

Esse também foi uma das pessoas que fez parte da minha infância, que foi humildemente vivida no Bairro Bom Retiro em Muzambinho, vida humilde e pobre, que o radinho de pilha, não era só um rádio, era como se fosse alguém da família. E todos que falavam naquele rádio, teve um papel fundamental na minha formação.